sábado, 19 de julho de 2008

Pintando com novas cores: um esboço de leitura em "Las Meninas"

A Escola de Velázques- George Deeam


Autora: Profa Dra Ormezinda Maria Ribeiro- Aya

Resumo:
Os textos sincréticos compõem um vasto acervo utilizado pela mídia e adquirem cada vez mais relevo. Neste ensaio pretendemos fazer uma leitura do texto de Elio Gaspari para a Folha de São Paulo, que se utilizou de uma montagem de Alex de Freitas da obra de Velázquez, ''Las Meninas''. Nosso propósito é trazer à tona a questão da eficácia simbólica, destacada por Pêcheux (1985), como um operador de memória social, que possibilita a reconstituição de figuras do passado, trazendo-as para uma leitura atualizada, posto que tem o poder de retomar discursos que estão em outros lugares e em outras épocas e podem ser evocadas em forma de paráfrases. Interessa-nos dar a essas remissões de discursos um cunho pedagógico para atingir nosso leitor: aquele aluno que, exposto à mídia, cada vez mais faz uso de variados tipos de textos, sem se limitar ao texto escrito, mas freqüenta uma escola ainda tradicional.

Palavras-chave: textos sincréticos; memória social; leitura



Estes escritos encadeados podem ser lidos como uma seqüência de pequenos poemas ou como um poema longo que passo a passo desdobra uma idéia única: a de que eu não sou, a não ser quando o outro me faz.

(Carlos Rodrigues Brandão)

De acordo com Marcuschi (1986), em todas as sociedades letradas, os que têm acesso à escrita podem desenvolver quatro habilidades no uso da língua: falar e escrever, ouvir e ler.
Ora, sabe-se que a leitura implica, ao mesmo tempo, a competência formal e política e que, nesse quadro, também representa a realização da autonomia do sujeito que encontra na leitura não apenas a maneira erudita de ver ou de realizar o armazenamento passivo das informações, mas também a demonstração concreta de que é possível saber pensar para compreender e para melhor intervir. E para que a leitura se frutifique na devida competência e na devida cidadania precisa da formulação pessoal, da produção de um outro texto: o texto do próprio leitor, pois em certo sentido, como diz Austin (1990), “dizer é fazer”.
O objetivo final de um ensino de língua proficiente deveria ser, portanto, formar um leitor crítico capaz de ler o implícito do texto, refletir sobre o pensamento do autor sobre as estratégias utilizadas por ele para mascarar seu ponto de vista.
A urgência de se associar a leitura à construção de sentido é ponto básico das diversas pesquisas que realmente objetivam trabalhar o letramento como forma global de aprendizado. A mudança de atitude do professor tanto na identificação do processo como no desenvolvimento de uma leitura de construção de sentido é, ao nosso ver, o ponto de partida para um trabalho eficiente e, realmente, significativo se objetiva tornar o educando um leitor proficiente. A prática deve, ainda levar o aluno ao uso competente da escrita que passa, de forma obrigatória, pelos processos de leitura. A preocupação em formar alunos leitores constitui hoje o eixo norteador das transformações educacionais que compõem a grande demanda social atual.
O processo de significação do texto é instaurado a partir da instituição do sujeito do discurso, que se constitui, ao mesmo tempo, como interlocutor, o OUTRO, que é por sua vez constituído do próprio EU; e nesse encontro, ao se identificarem como interlocutores (eu–outro), promovem a atualização do discurso.
A análise do discurso visa salientar o funcionamento da compreensão na constituição dos processos de significação, como nos esclarece Orlandi (1988, p.74):

O sujeito leitor que se relaciona criticamente com sua posição, que a problematiza, explicitando as condições de produção da sua leitura, compreende. A compreensão supõe uma relação com a cultura, com a história, com o social e com a linguagem, que é atravessada pela reflexão e pela crítica.

Gregolin (1999, p. 57) afirma que a escola, ao organizar seu conhecimento a partir da escrita, centraliza-se em atividades utilitárias privilegiando o material escrito e impede que os leitores se apercebam da complexidade que há na relação entre a linguagem verbal e a não verbal. Esclarece, ainda, essa autora, que os textos sincréticos, atualmente, compõem um vasto acervo utilizado pela mídia e adquirem cada vez mais relevo, lembrando que a memória social não se encontra somente guardada nos materiais escritos, mas também se apresenta, nas formas da mídia, diante do icônico, do simbólico.
Com base nesse aspecto é que pretendemos fazer uma leitura do texto de Elio Gaspari para a Folha de São Paulo, do dia 23 de julho de 2000, intitulado: ''As assessorias podem explodir'', utilizando-se de uma montagem feita por Alex de Freitas da obra de Velázquez, ''Las Meninas''.
Nosso propósito é trazer à tona a questão da eficácia simbólica, destacada por Pêcheux (1985), como um operador de memória social, que possibilita a reconstituição de figuras do passado, trazendo-as para uma leitura atualizada, posto que tem o poder de retomar discursos que estão em outros lugares e em outras épocas e podem ser evocadas em forma de paráfrases. O que nos interessa, mais precisamente, é dar a essas remissões de discursos um cunho pedagógico, com vistas a atingir o nosso leitor: aquele aluno que, embora participante da vida moderna, exposto à mídia, que cada vez mais faz uso dos mais variados tipos de textos, sem se limitar ao texto escrito, freqüenta uma escola, ainda tradicional, no sentido, explicitado por Gregolin.
Para tal, apropriaremo-nos dos comentários tecidos por Foucault (1985) em ''Las Meninas", esforçando-nos para compor um texto a partir de ''alguns fragmentos encadeados que vão do eu ao outro”, seguindo a trilha de Brandão, (1988).
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Um comentário:

Paôla Kohler disse...

Achei muito legal, compartilhe com todos:


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